quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Etnia e Educação Física: Responsabilidade Social da/na Escola



José Evaristo Silvério Netto

(submetido para publicação no jornal Oeste Noticias – Presidente Prudente, 14/11/2010)

A educação comumente é relatada como um meio de emancipação de um povo, um meio pelo qual as pessoas podem melhorar sua condição de vida, e se conscientizar do mundo que esta à sua volta. Porém, na educação formal, os temas polêmicos e estruturantes da sociedade são pouco ou nada discutidos. Temas como machismo, homofobia, racismo e preconceitos correlatos, não fazem parte do conteúdo ministrado pelas(os) professoras(es) da grade curricular para se trabalhar noções de cidadania. Poderíamos perguntar: se estes temas não são trabalhados na escola, a escola emancipa, conscientiza, e forma cidadãos críticos? Como a escola, e em especial a Educação Física Escolar, poderia trabalhar nesta perspectiva?

Vivemos em uma sociedade pluricultural e pluriétnica, onde é notório que alguns grupos não possuem as mesmas oportunidades do que outros. Uma sociedade desigual, onde pessoas que pertencem aos grupos étnicos negros e indigenas, não gozam das mesmas oportunidades sociais de pessoas que pertencem a outros grupos.

Esta desigualdade de oportunidades se manifesta em todas as esferas da sociedade, desde o trabalho, onde pessoas negras são discriminadas nas entrevistas e, geralmente possuem menor salário mesmo apresentando a mesma formação e estando no mesmo cargo que seus pares não-negros, só para citar dois exemplos, passando pelo estudo, até as manifestações mais expressivas de intolerância como são os casos de agressão (abordagem polícial, grupos neonazistas, ofensas verbais, etc..), assédio moral, e os casos de racismo no futebol, para citar um exemplo no esporte.

Estas e outras questões sobre o papel social da escola suscitaram a criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), inspirado no modelo educacional espanhol, com a função de auxiliar a elaboração dos currículos dos estados e municípios, incentivando a discussão pedagógica interna às escolas e elaboração de projetos educativos, entre outras atribuições. Uma outra ação, fruto da luta dos movimentos sociais por direitos humanos, principalmente os movimentos anti-racistas, foi a criação das leis 10.639/03 e 11.645/08, alterando a lei das diretrizes e bases da educação nacional (LDB), tornando obrigatória a inserção no curriculo oficial da Rede de Ensino a temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” de maneira positiva e não-estereotipada.

O professor na Educação Fìsica Escolar deveria explorar as potencialidades e capacidades de expressão do corpo das crianças. Este mesmo corpo que é alvo de preconceitos, estígmas, estereótipos, discriminações, violências e intolerâncias correlatas que provocam diferenças de oportunidades de inserção no tecido social, nas suas diferentes esferas. A pluralidade cultural e étnica deve ser matéria nas aulas de educação física, e uma das muitas maneiras de se trabalhar com este tema é por meio das “manifestações da cultura corporal”, utilizando danças, esporte, lutas, jogos de rua, e outras linguagens culturais.

Embuido desta responsabilidade, a(o) professora de educação física pode estabelecer diálogo com centros de educação não-formal, como é o caso das Associações de Capoeira, Escolas de Samba, Comunidades Étnicas, e Movimento Hip-Hop, entre muitas outras entidades sociais, para durante sua aula, trabalhar com estes conhecimentos não-formais, ressignificando-os dentro do seu objeto de estudo, a Cultura Corporal. Poderiam ser realizados eventos com representantes destas estidades sociais, com evolvimento dos pais ou familiares dos alunos, no sentido inclusive de ampliar o papel da escola, conscientizando e informando não só seus alunos e alunas, mas a familia destes.

Voltando a pergunta no inicio deste texto “...Como a escola, e em especial a Educação Física Escolar, poderia trabalhar nesta perspectiva?” a resposta nos parece importantíssima, e remete à responsabilidade social da Educação Física em trabalhar com a pluralidade étnica na escola.

Alinhar à direita

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Vida, Felicidade e Sentidos

(Texto postado no outro endereço - www.interiorabissal.blogspot.com)

Venho conversando com algumas pessoas, fundamentais na minha vida, e lendo textos extremamente sensíveis, sobre a vida, a felicidade, e a maneira como a conduzimos no desenrolar do tempo. É muito interessante este tipo de reflexão porque nos coloca sempre em xeque, nos obrigando quase que automaticamente a realizar uma atividade auto-analítica. É difícil olhar para dentro, porque deparamo-nos com nossas fraquezas, nossas imperfeições da consciência, com os assessórios de égo que nos humanizam e, vez ou outra, nos fazem pessoas idiotas e imperfeitas.

Ultimamente tenho refletido bastante sobre os cursos da minha vida, sobre o que eu quero para mim, sobre quem está à minha volta, sobre o que ando lendo e realizando, em possibilidades quânticas vísiveis (concretude) e invísiveis (intenções e pensamentos).

Tenho pensado bastante, e de maneira bem profunda, utilizando toda a minha potência filosófica para desvendar as profundezas do oceano interior, zona abissal. E o que provoca tudo isso, toda esta atividade intelectual e espiritual? Qual o produto de tudo isso?

Para mim, o produto é uma vida feliz. Felicidade em seu estado estável, que torna uma pessoa feliz, independente do que venha a ocorrer no plano da matéria. Desta forma, a pessoa torna-se feliz por ter consciência do significado que a sua vida possui para sí próprio. Vou tentar explicar isso, mas não sei se consigo porque estas palavras são a expressão de um sentido que esta dentro de mim, ou melhor dizendo é parte de mim.

Temos muitas metas na vida, que passam pela vida conjugal, pela vida profissional, etc.. que na verdade são uma vida só, são realidades da nossa existência. Quero ter uma casa, um carro, quero dar aula em uma faculdade pública, ser pesquisador, casar com a pessoa mais linda que conheço... e estes desejos vão se transformando em metas, em objetivos a serem alcançados. São a fonte da nossa alegria? Depende.. somente de nós.

Se a fonte da nossa felicidade for desta natureza, nunca seremos felizes, porque sempre estaremos estabelecendo metas mais elaboradas, mais dificeis, conforme formos realizando as primeiras. Sempre estamos querendo avançar, evoluir, e este processo é saudável, quando em equilibrio. Tenho a impressão que, de maneira geral, nossa sociedade, nossa cultura, nos introjeta este modelo de felicidade, de fontes são extrinsecas, e conceber isso no meu entender é viver em sofrimento. Estes fatores, para mim, são fontes de motivação, motivos que vão modular nosso comportamento nos vários âmbitos da vida, mas que não necessariamente serão decisivos para sermos felizes.

Felicidade é uma construção muito mais elaborada do que isso, muito mais sútil e complexa, com pseudópodos que ligam-nos ao transcendente, aos símbolos, sentimentos, e nos fazem ter a consciência de uma Gestalt, um sentido, uma energia sem precedentes que nos fazem felizes, mesmo em momentos tristes. A felicidade não nos é arrancada porque, sendo uma energia proveniente da Gestalt de sentidos, é parte de nosso espirito. Tornamo-nos espiritos felizes, e ai esta o meu entendimento de uma vida feliz.

Grande abraço!

Netto.

sábado, 16 de outubro de 2010

A Educação Física e o Corpo

(Por José Evaristo Silvério Netto)
Públicado no Jornal Oeste Noticias - Presidente Prudente - 10-10-2010



As experiências corporais são importantes em qualquer momento da vida. Através da relação que temos com o mundo, ou seja, com as pessoas, os objetos, em diversos contextos e situações, adqüirimos informações e construimos conhecimentos e entendimentos do mundo, e da realidade em que vivemos.

Quando somos pequenos, a relação entre o mundo exterior (sociedade) e o mundo interior (consciência), é mediada em grande parte pelos gestos corporais reflexos. Assim começamos a criar consciência do mundo que existe, e mais, iniciamos a construção da realidade como resultado da interpretação do mundo que nos aparece.

Com mais idade, freqüentamos a escola, palco de relações sociais importantíssimas à formação da personalidade das crianças e adolescentes. Continuamos nos conscientizando do mundo que, agora, passamos a perceber e interpretar de maneira diferente, haja vista que na escola quase sempre passamos a fazer parte de uma turma com características prórprias como o modo de vestir, de falar, de pensar, e isso tudo interfere e influência no processo de aquisição das informações do mundo exterior, e elaboração destas informações para a construção do mundo interior (consciência).

Mais velhos, mais conscientes do mundo que nos rodeia e das relações socias que temos possibilidades de criar, em tese tornamo-nos pessoas mais autonomas e hábeis na elaboração das informações que captamos das experiências que vivemos. Tornamo-nos mais seletivos, e aquelas informações que não nos acrescentam para uma elaboração intelectual adequada do mundo e das sociedade, nós descartamos.

Em todas estas fases da vida, e em todos os contextos supracitados, o corpo é o veiculo com o qual relacionamo-nos com o mundo, com as pessoas e os objetos. Na escola, brincando com os(as) amigos(as), estudando, conversando ou até sendo repreendido; em casa relacionando com nossos familiares, objetos pessoas, amigos(as); na rua, brincando, passeando, brigando, namorando; estamos aprendendo e ensinando, sendo influenciado e influenciando pessoas através da atividade física.

O que é a atividade física, portanto? É estar ativo para aprender, para entender o mundo, para nos relacionarmos com outras pessoas, para termos saúde, para termos prazer, para estudarmos, para praticar esportes, para sermos reconhecidos. O corpo é o meio pelo qual nós realizamos nossas conquistas. O interessante é que realizamos tudo isso sem termos consciência do papel fundamental que o corpo possui.

É correto afirmarmos que quando gozamos de uma consciência corporal desenvolvida, desde idades menores, as chances de termos facilidade em relacionamentos aumentam, assim como as chances para dominarmos com maestria os conteúdos das diferentes disciplinas da grade curricular no ensino fundamental e médio. E isso ocorre porque, tendo um alto grau de consciência corporal, o entendimento do mundo e a maneira de se relacionar com o mundo, e as informações que se adquiri deste são mais elaboradas, e o estímulo e a construção da personalidade e dos processos cognitivos são igualmente elaborados.

A grosso modo, o corpo esta intimamente relacionado a mente, da mesma forma que a mente esta intimamente ligada ao corpo. De maneira mais profunda e correta, dizemos que corpo e mente são a mesma coisa, ou que a mente é também o corpo, ou faz parte do corpo. O educador físico, desenvolvendo a consciência corporal das crianças e jovens em suas aulas, auxilia fortemente jovens a desenvolverem seu intelecto, sua personalidade e outros fatores cognitivos e subjetivos, e de fato, constroem um individuo critico e autonomo.

domingo, 3 de outubro de 2010

Estudos Sócio-Culturais e Gestão Esportiva

José Evaristo Silvério Netto
(texto publicado no jornal Oeste Noticias)




O Esporte é um fenômeno social de grande valia nas sociedades modernas, haja vista a forte influência que exerce em diversos setores da sociedade, como na saúde, na educação, na geração de renda, e no comportamento dos indivíduos. Este entendimento social do Esporte, em grande parte fruto dos estudos realizados nas áreas das ciências sociais e da educação física humanista, suscitou o aumento da importância e alocação do esporte dentro das políticas de Estado, nas suas esferas municipal, estadual e federal.

Os gestores públicos, percebendo acertadamente que o Esporte pode servir como um meio para melhorar diversos indicadores de qualidade de vida e saúde da população, passaram então a utilizá-lo nas políticas públicas de enfrentamento das vulnerabilidades sociais. Atualmente, é notório o importante papel que o Esporte possui nas políticas públicas voltadas às comunidades em situação de vulnerabilidade e/ou risco social.

Embora o Esporte tenha sua importância elucidada, existe um grande problema na gestão esportiva que precisa ser superado, principalmente quando são considerados os grandes projetos para crianças e jovens carentes. Este problema de primeira ordem se resume na ausência de estudos anteriores à implementação destas políticas esportivas para o levantamento da situação real e das demandas das pessoas que serão atendidas.

Sem estudos que digam, por exemplo, quais os principais motivos para a prática de esportes em jovens que residem no bairro onde o programa esportivo será viabilizado, ou qual é a condição sócio-econômica da família, a escolaridade destes jovens e seus pais ou responsáveis, e até mesmo como estes jovens se percebem em diversos ambientes que freqüentam como a escola, a família e os amigos, os programas esportivos perdem muita eficácia não atendendo a população em suas reais necessidades.

Investem-se muitos recursos em projetos esportivos sem a realização de um estudo que forneça um diagnóstico social ou um relatório para nortear os trabalhos a serem desenvolvidos. Um “tiro no escuro” é dado cada vez que isso ocorre, e o desfecho quase sempre é um baixo impacto social destes projetos, com uma rotatividade grande de crianças e jovens (muitos jovens se engajam na prática esportiva, mas por outro lado muitos jovens desistem da prática), e uma baixa ou nenhuma mudança na qualidade de vida dos jovens e suas famílias.

Desta forma, se faz importante conhecer “a fundo”, com criticidade e bastante lucidez, as fragilidades dos jovens com relação a auto-estima e a maneira como se percebem na sociedade, e é igualmente importante conhecer quais os principais motivos que levam estes jovens a praticarem o esporte. De posse destes e de muitos outros indicadores da situação destas pessoas, é possivel aumentar a motivação, e melhorar a imagem que eles têm deles próprios, dando a oportunidade para que estas pessoas estabeleçam metas e expectativas mais positivas para seu futuro, utilizando para tanto o esporte como instrumento de cidadania.

O esporte somente se torna um instrumento de educação e cidadania quando é utilizado nas políticas públicas e projetos de diversas naturezas com responsabilidade, sendo norteado por estudos e conhecimentos que fundamentam o trabalho esportivo. Caso contrário, o esporte nada mais será do que uma prática descompromissada com os interesses e anseios da sociedade, ou pior, uma prática alienante que causará prejuízos por alijar ainda mais a população dos aparelhos de exercício de cidadania.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Educação Física: Educação Para a Humanização


José Evaristo Silvério Netto
(texto publicado no jornal Oeste Noticias - 16/05/10)

A educação básica passa por um período de crise, traduzido pela falta de infra-estrutura adequada das escolas, falta de materiais didáticos e baixa qualidade destes materiais pedagógicos, baixos salários dos professores e dos outros profissionais do ensino, desmotivação dos(as) professores, e outros problemas como violência e consumo de drogas, que aumenta entre as crianças e jovens.

Neste caos, fica dificil pensar em um trabalho de formação global do cidadão, que garanta aos jovens a inserção ativa na sociedade transformando-a, e interação com o mundo de forma saudadel. Fica difícil inclusive garantir o domínio de conhecimentos básicos de matemática, física, quimica, português, história, geografia, e educação física.

O que percebemos são jovens (quase adultos) com dificuldades de interpretação de texto, de escrita, jovens que não conhecem a história da sociedade da qual fazem parte, e por isso, também não compreendem os acontecimentos políticos-econômico-sociais que são veiculados diariamente pela grande mídia televisiva.

Penso que é necessário uma reflexão profunda sobre o papel da escola, e principalmente sobre como a escola deve atuar junto aos seus alunos e à sociedade. Dentro desta reflexão especifico a atuação da Educação Física como uma disciplina que, ocupando-se do corpo e de seus movimentos, aumenta as possibilidades da consciência do mundo, de maneira mais ampla, e da sociedade, de maneira mais específica, dos alunos.

A Educação Física lída com o corpo. E o corpo é muito mais que uma maquina de andar, correr, saltar, e manipular coisas. O corpo somos nós, o corpo pensa, fala, se expressa, sente, e nele é circunscrito todos os valores sociais contemporâneos.

Daí já podemos vislumbrar a importância que a Educação Física tem na escola. Na primeira infância (do nascimento até os 3 anos de vida), as crianças se encontram em uma fase chamada sensório-motora, onde estão normalmente desenvolvendo seu entendimento de mundo através do movimento corporal, inicialmente reflexo mas que pouco a pouco evolui para movimentos voluntarios. Na segunda infância (dos 3 até os 7 anos, aproximadamente) a criança em uma nova fase de desenvolvimento chamada pré-operatória, já consegue interagir com o mundo a sua volta de maneira mais profunda, já estabelece relações com os objetos e simbolos, e seus movimentos são resultado das suas intenções, inclusive a fala.

Tanto na primeira infância quanto na segunda, as crianças conhecem o mundo, e desenvolvem sua inteligência e personalidade predominantemente através do movimento corporal. A partir daí, na terceira infância (dos 7 até os 12 anos) e na adolescência, é o corpo em contato com outros corpos (interação social) que irá promover o desenvolvimento do indíviduo, sua inteligência, personalidade, e todas as suas competências e habilidades humanas.

Nas aulas de educação física, aproximadamente a partir dos 7 anos de idade, nas crianças deveriam-se ampliar as possibilidades de expressão e consciência corporal através de jogos tanto cooperativos quanto competitivos. O professor de educação física, respeitando e utilizando em suas aulas o conhecimento motor que as crianças já possuem, promoveria através de atividades diversas (jogos, brincadeiras, desafios, esportes) um aumento das noções de lateralidade, espaço-temporal, além do aumento da socialização, todos pré-requisitos para a aquisição de patrimonios culturais tais como a linguagem falada e escrita, e os conhecimentos em matemática e ciências.

As experiências corporais são determinantes para o desenvolvimento de todos esses processos de formação do cidadão, e é na educação física escolar que a escola tem a possibilidade de trabalhar com o corpo, para ai sim, fazer jus ao que se estabelece nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN´s) e nas Leis de Diretrizes e Bases.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Esporte Juvenil e Sociedade


* Por José Evaristo Silvério Netto
(texto postado no jornal Oeste Noticias - 28 de março de 2010)


O ‘esporte juvenil’ vem sendo cada vez mais objeto de discussão na área da Educação Física dado o seu crescimento em importância no campo da saúde coletiva, sendo um dos fenômenos socioculturais contemporâneos mais importântes nas sociedades modernas.

Aproximadamente a partir da década de 1970, vários estudiosos de áreas do conhecimento como as Ciências Sociais, Educação Física, Medicina e outras, começaram a elucidar os benefícios biopisicossocio-culturais advindos da prática esportiva. O esporte, a partir destes estudos, passou a ser visto como um elemento importante da cultura e como um instrumento fundamental para o desenvolvimento adequado da saúde e do bem-estar coletivo.

Isso se deu devido às características do momento histórico (décadas de 1970 e 1980), onde profundas mudanças no estilo de vida das pessoas levaram os profissionais da área a se preocuparem com os comportamentos de risco à saúde que cada vez mais eram assumidos pela sociedade, e pelos jovens de modo particular, e que até então eram entendidos como elementos indissociáveis da ‘modernidade’. Desta maneira, a prática insuficiente de atividade física por grande parte da população, atrelada a outros comportamentos de risco à saúde como a dieta hipercalórica de baixo valor nutricional, o consumo de tabaco, álcool e outras drogas lícitas, e o aumento do consumo de drogas ilícitas, foram e vêm sendo alvos de muitos estudos.

No bojo desta problemática engendrada pelos avanços tecnológicos e mudanças no estilo de vida atribuidas às características da modernidade como a competitividade, o esporte juvenil apareceu como uma alternativa interessante. As crianças e jovens, por conta das exigências sociais, são cada vez mais cobrados em relação ao desempenho escolar, ao ingresso no ensino superior, e a inserção profissional, além de outras cobranças advindas dos seus pares, e quando práticam esporte são absorvidos por esta atividade, de modo que no momento da prática eles não se encontram sob a pressão, as expectativas e ansiedades da vida cotidiana.

O esporte possue um grande valor terapêutico para as crianças e jovens porque faz com que estes, pelo menos durante a prática, transfiram a atenção para fora de sí se preocupando somente com a prática esportiva, e não com os problemas ou tarefas inerentes do cotidiano. Um jovem que prática atletismo, por exemplo, durante a prática se concentra nos gestos motores, na aplicação de força, e em focar sua atenção no desempenho atlético, e toda esta gama de atividades cognitivas e motoras geralmente são saudáveis do ponto de vista psicológico, além de promover grande satisfação emocional.

Mas talvez o maior benefício proporcionado pelo esporte é a influência que este gera no comportamento humano, beneficiando o fortalecimento de um estílo de vida saudável não apenas pelo aumento da atividade física, mas também pela interferência positiva em outros aspectos da vida. Isso ocorre porque, para que um jovem obtenha bons rendimentos em qualquer modalidade esportiva, principalmente àquelas onde o gasto energético é alto, é fundamental que se este jovem tenha uma dieta balanceada e de alto valor nutricional, adequadas horas de sono, além de não consumir qualquer substância que venha a desfavorecer a boa saúde. Esta disciplina comportamental, quando incorporada no cotidiano do jovem, é transferida para outros ambientes senão o esportivo, fazendo com que este jovem não assuma os comportamentos de risco à saúde acima descritos.

A Educação Física escolar, e a intervenção dos educadores físicos em outros ambientes (bachareis), possuem este importante papel social. A utilização adequada do esporte como instrumento de educação para a saúde, realizada majoritariamente pelo educadores físicos, possibilita a adoção de hábitos saudáveis em vários aspectos da vida e em todos os ambientes sociais e, atualmente se mostra como um aliado de primeira órdem para o avanço social rumo à uma ‘modernidade’ mais saudável.


domingo, 9 de maio de 2010

Uma singela reflexão sobre informação, conscientização e tranformação



Por José Evaristo Silvério Netto

Sempre conversamos e tentamos amadurecer algumas idéias acerca do que é necessário para um trabalho de conscientização de fato eficaz, para a promoção da mudança de comportamento das pessoas históricamente vitimadas pelo racismo e machismo. Ultimamente, venho tendo algumas idéias que gostaria de dividir.

Nós sempre trabalhamos com a informação, visando uma mudança de comportamento. Este sempre foi o pano de fundo das intervenções óra de movimentos sociais, óra de ações governamentais, para a superação de alguma dificuldade ou, no caso específico, minimização e superação do racismo na sociedade. Visamos a conscientização do individuo e do grupo social, preocupados com a qualidade e quantidade das informações que estamos transmitindo, e atentos ao feedback instantâneo que nos é apresentado pelo público. Para transmitir tais conhecimentos, por exemplo sobre cultura e história da população negra no Brasil, ou informações acerca das tecnologias desenvolvidas pelas sociedades africanas que influenciaram o mundo, entre muitos outros temas, utilizamos diversas metodologias de trabalho, a citar palestras, simpósios, congressos, encontros com mesas temáticas e grupos de trabalho, oficinas, e grupos de estudo. Desta maneira, entendemos que a transmissão de grande volume de importantes informações (conteúdos ou conhecimento) garante em grande parte um engajamento político das pessoas agraciadas. Estou certo?

E isso de fato ocorre? O publico alvo destas ações de conscientização e mobilização ou formação política, assumem este comportamento de engajamento político? Qual é a magnitude da eficácia desta abordagem, pensando em algo concreto como a mudança de comportamento?

Fala-se muito em mobilização da juventude negra, conscientização e mobilização, ou em formação política e de agentes de cidadania, na perspectiva de mudança de comportamentos e tomada de cosnciência. Jovens antes alienados e sem perspectiva de vida, vitimados pelo racismo e outras ideologias de dominação, depois de um trabalho de conscientização tornam-se criticos, se posicionando de forma coerênte frente à atitudes discriminatórias e preocnceituosas, e participativos em atividades de superação destas mazelas sociais. Mas este trabalho de mobilização é extremamente dificultoso porque na abordagem das pessoas que queremos atingir, encontramos muita resistência, desconfiança, medo, o que dificulta a transmissão das informações para a promoção da mudança de comportamento e tomada de consciência (processo acima discutido).

Tenho dúvidas sobre a eficácia desta abordagem de trabalho adotada. Esta minha dúvida é justamente minha motivação para escrever este texto.

Penso que a preocupação com a informação é acertada, assim como o é a preocupação com a quantidade de informações, nestas atividades de militância social. Sem dúvida! Mas penso que não deve ser estas as únicas preocupações. Acredito que temos que nos atentar à maneira como estas informações estão sendo processadas e codificadas em cada indivíduo, ou seja, temos que nos preocupar não apenas com as informações, mas com o padrão de pensamento ou a "engenharia cognitiva" dos indivíduos que estamos trabalhando, que queremos atingir e "transformar", de forma que estes estabeleçam uma relação sadia com as informações que estão acumulando. Mais do que isso, que haja "significação" destas informações, de modo que elas sejam fundidas nos sentidos que norteiam as motivações e ações destas pessoas. Este processo, acredito eu, provocaria uma mudança de comportamento uma vez que as pessoas utilizariam as informações por nós transmitidas para interpretarem o mundo que os rodeia. "Poeticamente" poderia dizer que o mundo já não seria o mesmo aos olhos destas pessoas, devido a mudança na percepção do mesmo.

Quando falo neste processo de incorporação das informações transmitidas nos sentidos pessoais, estou entendendo 'sentido' como uma Gestalt ou estrutura onde de forma "enovelada" estão emoções, sentimentos, lembranças de experiências vividas, expectativas, informações somáticas, dogmas, conceitos e preconceitos, e qualquer outro fator relevante para a constituição de uma entidade espiritual. Não é um debate sobre religião, inclusive penso que religião não tem nada a ver com este debate. É importante dizer que estou entendendo o espiritual como algo transcendente, e independente de dogmas e experiências religiosas. Desta forma, se você se emociona, logo você é uma entidade espiritualizada, uma vez que a emoção é um fator espiritual, assim como os sentimentos e outros que se relacionam com o que é entendido como estado de espírito (criticas são muito bem vindas (risos)).

Então, o que estou dizendo é que é necessário sensibilizar as pessoas no processo de formação política e articulação social. É necessário sensibilizar, e principalmente promovar uma atividade que faça sentido, ou que levem as pessoas a atribuirem sentido às informações transmitidas. Quando penso em alguns segmentos de movimentos sociais, como o Hip-Hop, a Capoeira, o Frevo, os grupos culturais, enfim, acredito que estas linguagens trabalham neste nível assimilação de conhecimento que julgo importante. São movimentos que tem como público individuos à margem da condição de cidadão, e que conseguem o engajamento destas pessoas com grande eficácia.

As pessoas se emocionam, e atribuem significado às atividades realizadas, por exemplo, no movimento Hip-Hop. Pessoas que nunca tiveram voz, e que foram sempre invisíveis, tornam-se visiveis e com voz ativa no movimento, com possibilidade se expressar através da dança, do graffiti, dos riscos nos discos, e do rap. E se expressando, coerente ou incoerentemente, é notório o desenvolvimento da dimensão espiritual, haja vista o componente emocional que está sendo manipulado nestas atividades. "A vida já não é mais a mesma, o mundo a sua volta é interpretado de outra forma". A relação interpessoal é um ítem fundamental neste processo. No Hip-Hop a humildade e a solidariedade dos mais experiêntes no trato aos mais novos no movimento é um grande aliado para o processo de significação das informações transmitidas, operando e alimentando o componente emocional destes individuos. É só pensarmos que para uma criança em situação de vulnerabilidade fisica, emocional e social, ser amparada e tratada com carinho e respeito pelo Mano Brown em um evento, ou outro grande ícone do movimento Hip-Hop, seria um divisor de águas na sua vida. As informações são importantes, mas a dinâmica na qual as relações ocorrem são igualmente importantes, talvez até mais importantes se pensarmos no engajamento ou mudança de comportamento.

Penso que seria importante uma reflexão neste sentido. Acredito que é necessário um 'fazer diferente' nas nossas ações enquanto militântes, para a promoção de uma mudança no padrão de pensamento das pessoas. Não acredito que apenas a garantia da transmissão de informações possa gerar algo significativo para a superação do racismo e do machismo, por exemplo. É algo além disso.. . O que faz um homem mudar suas atitudes no dia-a-dia de modo a reproduzir menos o machismo, talvez tenha mais relação com uma mudança de sentidos do que propriamente com um acumulo de o informações sobre o machismo e a luta anti-machista. Enfim... .