terça-feira, 18 de agosto de 2009

Um Fator Social de Impacto na Saúde Coletiva

Por: José Evaristo Silvério Netto - 16/8/2009
(texto postado no site
www.afropress.com.br)

O constructo teórico de saúde diz respeito às regulações humanas nos aspectos biológico, psicológico e social, e suas subunidades, sendo uma matéria bastante complexa e de difícil investigação e compreensão. Em se tratando de estratégias intervencionistas para a promoção da saúde coletiva, principalmente em estratos sociais vulneráveis, o fator ‘Etnia/Cor Declarada’ precisa ser amplamente investigado em pesquisas de natureza descritiva epidemiológica, ou correlacional, ou outra de natureza analítica, para que seja posível investigar com profundidade a influência da condição ‘ser negro’ ou ‘ser não-negro’ na saúde negativa ou positiva das populações.

De acordo com a teoria Sócio Cognitiva de Albert Bandura, o ser humano se comporta norteado pela interrelação entre o comportamento, os fatores pessoais e o ambiente, todos agindo como determinantes que se influênciam bidirecionalmente. Esta relação é denomidada segundo pesquisadores como reciprocidade triádica¹. Existe uma outra teoria, dentro desta supracitada, nomeada Teoria de Autodeterminação que diz que a motivação é o motor primário do comportamento humano, e é norteada por necessidades básicas inatas, que são: sentir-se competênte, sentir-se com agência pessoal, e sentir-se filiado a um grupo social de interesse². Estas necessidades são contempladas quando o contexto na qual o indivíduo se encontra é avaliado pelo mesmo como positivo, seguro, um ambiente na qual ele se sinta bem. Porém, quando o indivíduo percebe o ambiente como adverso, e não mais tem contempladas as necessidades básicas inatas, acaba por desenvolver um comportamento ou conduta não autodeterminada, perdendo controle ou agência pessoal e se sentindo controlado por fatores sociais externos à suas vontades e prazeres.

Como será que estas necessidades básicas inatas do ser humano de agência pessoal, competência e relacionamento social, se desenvolvem no (a) negro (a) brasileiro (a)? Será que temos nossas necessidades básicas contempladas? Será que é possível contemplarmos plenamente nossas necesidades nesta dinâmica social estabelecida, onde o racismo permeia as relações humanas. Em matéria de Saúde Coletiva, como é possível pensar em desenvolvimento da saúde positiva da população negra através de intervenções por meio de projetos de estado (ou de governo na pior das hipóteses) sem fazermos aproximações teóricas, e, principalmente, sem investigarmos os mecânismos psicológicos e sociais do racismo e outras intolerâncias correlatas, e o impacto desta nos vários aspectos do constructo complexo da Saúde?

É necessário construirmos esta maturidade científica.

Referências literárias:
¹ Azzi, R. G.; Polydoro, S. A. J. Auto-eficácia em diferentes contextos. Campinas: Alínea. 2006.
² Ryan, R. M.; Deci, E. L. Self-Determination Theory and the facilitation of intrinsic motivation, social development, and well-being. American Psychologist. 2000; 55(1): 68-78.

domingo, 9 de agosto de 2009

O Amor Negro, um forte sentido fruto de um arranjo denso e complexo e sentimentos, emoções, experiências diretas e vicárias, conceitos e preconceitos. Derramamento de Asè materializado num beijo que causa um colapso tão absurdo que é capaz de mudar a realidade.
O mundo já não é mais o mesmo.

Um sentido que se fortalece constantemente através do prazer em estar junto, das palavras ditas e ouvidas, dos olhares cruzados, do toque. Um tremendo Asè que faz sentirmo-nos mais humanos, e nos dá a certeza da presença de uma força superior.









O Amor Preto que, de tão bonito, provoca-nos uma evolução espiritual. Nos presenteia com uma ferramenta de transcendência do espírito, capacitando-nos a sentir felicidade alheia às condições financeiras e circunstâncias da vida... o Amor Preto que nos faz desenvolver a inteligência espitirual, uma faculdade que vai além do raciocínio lógico, do conhecimento científico e de outros parâmetros de medição do intelecto humano.



terça-feira, 28 de julho de 2009

Politização

Politização é uma matéria importantíssima para o fortalecimento dos movimentos por direitos humanos e de promoção da igualdade racial, dentre os quais o movimento negro.

Muito se discute sobre estratégias de mobilização da população negra, em especial da juventude negra, ao redor da luta anti-racista. A politização da juventude é um aspecto importante para a tomada de consciência negra e pertencimento racial, e, na seqüência, para o engajamento em movimentos por direitos humanos participando de reuniões de formação ideológica, política, fóruns, atividades culturais, pesquisas, atos públicos, e outras atividades que visem a superação do racismo e preconceitos diversos.



O problema é quando se confunde politização, ou discussão política, com partidarização ou discussão político-partidária. O jargão é forte no sentido que as pessoas, quando discutindo políticamente, predominantemente discutem sobre siglas partidárias e seus seguidores. Não se discute, em política, sobre a deformação na qual nós homens negros estamos acometidos por conta do racismo e do machismo, ou sobre a atuação e a condição das mulheres negras dentro do movimento negro.


Não se discute, em formação política, sobre o problema que nós negras e negros enfrentamos no seio familiar, o problema do alcoolismo nessas familias, das drogas, da falta ou dificuldade em "gestar o Amor"; tudo isso creio eu, impacto da ideologia racista na qual estamos mergulhados até o fio de cabelo.



Temos que avançar no sentido de trabalhar na reconstrução dos nossos valores, da nossa personalidade, nos avaliando constantemente, reconfigurando a deformação provocada pelo racismo e machismo, principalmente nós homens negros. Desta forma poderemos pensar em politizar de fato.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Juventude Negra de Londrina – caminhando para a politização

Texto enviado ao Jornal Cincão Noticias – Londrina.

Em Londrina, atualmente, existem algumas entidades e grupos de juventude que lutam por direitos humanos, principalmente contra o racismo, sexismo, e intolerâncias correlatas. Dois destes grupos que estão se estruturando e são o COJUNE – Coletivo da Juventude Negra de Londrina e o UJAL – União da Juventude Afro de Londrina.

A população precisa se organizar para pensar a sociedade que se quer construir. Vivemos um momento de grandes debates e preocupações acerca da onde de violência que assola a sociedade como um todo, violência que antes era restrita aos bairos periféricos e que agora atingem os bairros mais elitizados. Enquanto a violência era um assunto que envolvia bairros periféricos, que predominância de moradores pobres e negros, não havia muita preocupação por parte dos gestores públicos. Quando esta violência se ampliou atingindo ricos e pobres, graças às profundas desigualdades sociais principalmente quando é analisada a situação da população negra e das mulheres, despertou grande preocupação por parte do governo federal, estadual e municipal. Desde então vêm ocorrendo conferências de segurança pública organizadas por órgãos governamentais, vêm sendo criadas leis para tentar conter a violência urbana, e outras ações no sentido de coibir a onda de crimes e violência que hoje atinge a sociedade como um todo.

O grande problema é que, como sempre acontece, a população não foi consultada. Nesses processos políticos, a sociedade cívil pouco tem participado para auxiliar na formulação de políticas para a promoção de uma sociedade mais justa e menos desigual. Desta maneira, nós da juventude negra entendemos que para que haja uma efetiva mudança na realidade da nossa sociedade, a população deve participar dos processos políticos, como as conferências que vêm sendo realizadas (conferências livres de Segurança Pública, de Promoção da Igualdade Racial, de Comunicação, de Saúde, etc..), pois é a população, principalmente os moradores das regiões periféricas, que tem conhecimento de causa sobre a violência urbana e as desigualdades sociais, e sabem quais os problemas pontuais que devem ser superados para que construamos, de fato, uma sociedade mais humana.

Estamos nos organizando, COJUNE e UJAL, para que possamos através da militância por direitos humanos lutar contra o racismo, contra a reprodução de intolerâncias, e contra as desigualdades sociais, através de ações como reuniões, organizações de eventos de debates, articulações com outros movimentos sociais e grupos culturais. Convidamos a todas e todos para juntarem-se a nós. Para tanto, devem entrar em contato conosco pelo e-mail: nettosilverio@yahoo.com.br ou pelo telefone (43) 842619030.