quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Etnia e Educação Física: Responsabilidade Social da/na Escola



José Evaristo Silvério Netto

(submetido para publicação no jornal Oeste Noticias – Presidente Prudente, 14/11/2010)

A educação comumente é relatada como um meio de emancipação de um povo, um meio pelo qual as pessoas podem melhorar sua condição de vida, e se conscientizar do mundo que esta à sua volta. Porém, na educação formal, os temas polêmicos e estruturantes da sociedade são pouco ou nada discutidos. Temas como machismo, homofobia, racismo e preconceitos correlatos, não fazem parte do conteúdo ministrado pelas(os) professoras(es) da grade curricular para se trabalhar noções de cidadania. Poderíamos perguntar: se estes temas não são trabalhados na escola, a escola emancipa, conscientiza, e forma cidadãos críticos? Como a escola, e em especial a Educação Física Escolar, poderia trabalhar nesta perspectiva?

Vivemos em uma sociedade pluricultural e pluriétnica, onde é notório que alguns grupos não possuem as mesmas oportunidades do que outros. Uma sociedade desigual, onde pessoas que pertencem aos grupos étnicos negros e indigenas, não gozam das mesmas oportunidades sociais de pessoas que pertencem a outros grupos.

Esta desigualdade de oportunidades se manifesta em todas as esferas da sociedade, desde o trabalho, onde pessoas negras são discriminadas nas entrevistas e, geralmente possuem menor salário mesmo apresentando a mesma formação e estando no mesmo cargo que seus pares não-negros, só para citar dois exemplos, passando pelo estudo, até as manifestações mais expressivas de intolerância como são os casos de agressão (abordagem polícial, grupos neonazistas, ofensas verbais, etc..), assédio moral, e os casos de racismo no futebol, para citar um exemplo no esporte.

Estas e outras questões sobre o papel social da escola suscitaram a criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), inspirado no modelo educacional espanhol, com a função de auxiliar a elaboração dos currículos dos estados e municípios, incentivando a discussão pedagógica interna às escolas e elaboração de projetos educativos, entre outras atribuições. Uma outra ação, fruto da luta dos movimentos sociais por direitos humanos, principalmente os movimentos anti-racistas, foi a criação das leis 10.639/03 e 11.645/08, alterando a lei das diretrizes e bases da educação nacional (LDB), tornando obrigatória a inserção no curriculo oficial da Rede de Ensino a temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” de maneira positiva e não-estereotipada.

O professor na Educação Fìsica Escolar deveria explorar as potencialidades e capacidades de expressão do corpo das crianças. Este mesmo corpo que é alvo de preconceitos, estígmas, estereótipos, discriminações, violências e intolerâncias correlatas que provocam diferenças de oportunidades de inserção no tecido social, nas suas diferentes esferas. A pluralidade cultural e étnica deve ser matéria nas aulas de educação física, e uma das muitas maneiras de se trabalhar com este tema é por meio das “manifestações da cultura corporal”, utilizando danças, esporte, lutas, jogos de rua, e outras linguagens culturais.

Embuido desta responsabilidade, a(o) professora de educação física pode estabelecer diálogo com centros de educação não-formal, como é o caso das Associações de Capoeira, Escolas de Samba, Comunidades Étnicas, e Movimento Hip-Hop, entre muitas outras entidades sociais, para durante sua aula, trabalhar com estes conhecimentos não-formais, ressignificando-os dentro do seu objeto de estudo, a Cultura Corporal. Poderiam ser realizados eventos com representantes destas estidades sociais, com evolvimento dos pais ou familiares dos alunos, no sentido inclusive de ampliar o papel da escola, conscientizando e informando não só seus alunos e alunas, mas a familia destes.

Voltando a pergunta no inicio deste texto “...Como a escola, e em especial a Educação Física Escolar, poderia trabalhar nesta perspectiva?” a resposta nos parece importantíssima, e remete à responsabilidade social da Educação Física em trabalhar com a pluralidade étnica na escola.

Alinhar à direita

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