sábado, 29 de novembro de 2008

Esporte e política

O esporte é um fenômeno da maior importância na sociedade contemporânea, não há como não aceitar este fato. Os meios de comunicação utilizam os eventos esportivos para ganhar audiência, gerar lucros com propagandas, direitos de imagem, ...; o esporte movimenta milhões de reais todos os anos, é responsável por milhões de empregos diretos e indiretos. Segundo o plano pluri-anual 2004-2007 do governo federal (UNESCO, 2004, p.174) o Ministério dos Esportes investiria 387 milhões de reais em programas para o fomento do esporte nacional.


Mas o poder econômico não é a unica justificativa da sua importância social. O esporte provoca em todos os envolvidos em sua prática (atletas, profissionais do esporte, espectadores) fortes emoções, sentimentos, motivações. O esporte faz rir, chorar, zangar, chingar, e elogiar. O esporte faz amar. Segundo Knijnik e Knijnik (2004),


esporte influencia de forma descomunal as sociedades
porque se faz presente no imaginário dos povos e
movimenta fortunas direta e indiretamente, causando
paixões poderosas e tendo história e significação
próprias.

Quando um atleta, um ídolo de uma nação, se posiciona politicamente frente a um acontecimento marcante na sociedade, gera polêmica e muita reflexão. Os atletas são formadores de opinião, são indivíduos escolhidos como ídolos pelos admiradores e espectadores do esporte, são pessoas que possuem uma grande influência ou possibilidade de mudar hábitos e comportamentos sociais. Um exemplo clássico foi o esquisito corte de cabelo do jogador de futebol Ronaldo (o fenômeno) quando deixou um "topete". Logo, aquele corte virou moda entre os adolescentes que o admiravam, e não foram poucos.

Um aspecto interessante do esporte é que ele quebra a lógica ocidental e capitalista de pensar, de viver. Segundo Damatta (in: trancrição de palestra no Seminário Internacional Esporte e Sociedade) as atividades esportivas e artisticas subvertem a relação entre os meios e os fins, típica da sociedade capitalista. Desta forma os meios tronam-se mais importantes que os fins, desequilibrando o esquema de racionalidade, e entrando


num universo simbólico puro,
onde há bandeiras, onde se
gasta dinheiro comprando uma
entrada para uma atividade
sem finalidade objetiva.




Infelizmente no nosso país o futebol é hegemônico quando o assunto é esporte, antes fosse o taekwon-dô de Diogo Silva (aquele que imitou o gesto dos panteras negras, símbolo da luta anti-racista). Desta forma, "topete" do fenômeno, no país do futebol e do racismo foi um sucesso virando uma marca, uma patente, em detrimento dos punhos cerrados de Diogo Silva, simbolo da luta anti-racista por direitos humanos da população negra que no nosso país só representa 50% da população, que foi transfigurado a uma ofensa às entidades esportivas institucionais. Nada contra o futebol, pelo contrário, todos nos emocionamos com uma partida televisionada. Mas que bom seria termos atletas conscientes, politizados, ...militantes.



Referências:


  • Unesco - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Políticas Públicas de/para/com Juventudes. 2ºedição, 2004, Brasília – DF.
  • Damatta, R. O Esporte e o Jogo Como Formadores de Comportamentos Sociais. Trancrição de palestra em: Seminário Internacional Esporte e Sociedade.
  • Knijnik, JD; Knijnik, SF. Sob o Signo de Ludens: Interfaces Entre Brincadeira, Jogo, e os Significados do Esporte de Competição. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. 2004; 12(2): 103-09.